quarta-feira, 28 de março de 2018

Liturgia do Dia - sua Profecia diária


Quarta-feira, dia 28 de Março de 2018

Quarta-feira DA SEMANA SANTA

S. Sisto III, papa, +440, Santa Gisela, rainha, abadessa, +1065, S. Gontrão, rei e confessor, +514

Comentário do dia
Bento XVI: «Um de vós há-de entregar-Me».

Is. 50,4-9a.

O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos.
O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não resisti nem recuei um passo.
Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.
Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.
O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente!
O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?


Salmos 69(68),8-10.21bcd-22.31.33-34.

Por Vós tenho suportado afrontas,
cobrindo-se meu rosto de confusão.
Tornei-me um estranho para os meus irmãos,
um desconhecido para a minha família.
Devorou-me o zelo pela vossa casa,
e recaíram sobre mim os insultos contra Vós.

O insulto despedaçou-me o coração
e eu desfaleço.
Esperei por compaixão e não apareceu,
nem encontrei quem me consolasse.
Misturaram-me fel na comida
e deram-me vinagre a beber.

Louvarei com cânticos o nome de Deus
e em acção de graças O glorificarei.
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.




Mateus 26,14-25.

Naquele tempo, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes
e disse-lhes: «Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?». Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata.
E a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para O entregar.
No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?».
Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de tal pessoa, e dizei-lhe: 'O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo. É em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos'».
Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e prepararam a Páscoa.
Ao cair da noite, sentou-Se à mesa com os Doze.
Enquanto comiam, declarou: «Em verdade vos digo: Um de vós há-de entregar-Me».
Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar-Lhe: «Serei eu, Senhor?».
Jesus respondeu: «Aquele que meteu comigo a mão no prato é que há-de entregar-Me.
O Filho do homem vai partir, como está escrito acerca d'Ele. Mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido».
Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou: «Serei eu, Mestre?». Respondeu Jesus: «Tu o disseste».



Tradução litúrgica da Bíblia



Comentário do dia:

Bento XVI, papa de 2005 a 2013
Audiência geral do dia 18/10/06 (trad. © Libreria Editrice Vaticana, rev)

«Um de vós há-de entregar-Me».

Porque é que Judas traíu Jesus? A questão é objeto de várias hipóteses. Alguns recorrem ao fator da sua avidez de dinheiro; outros dão uma explicação de ordem messiânica: Judas teria ficado desiludido ao ver que Jesus não inseria no seu programa a libertação político-militar do seu próprio país. Na realidade, os textos evangélicos insistem sobre outro aspeto: João diz expressamente que «tendo já o diabo metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que O entregasse» (Jo 13,2); analogamente escreve Lucas: «entrou Satanás em Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos Doze» (Lc 22,3).

Desta forma, vai-se além das motivações históricas e explica-se a vicissitude com base na responsabilidade pessoal de Judas, o qual cedeu miseravelmente a uma tentação do maligno. A traição de Judas permanece, contudo, um mistério. Jesus tratou-o como um amigo (cf Mt 26,50), mas, nos seus convites a segui-lo pelo caminho das bem-aventuranças, Ele não forçava as vontades nem as preservava das tentações de Satanás, respeitando a liberdade humana. [...]

Recordemo-nos de que também Pedro se queria opor a Ele e ao que O esperava em Jerusalém, tendo aliás recebido uma forte reprovação: «Tu não aprecias as coisas de Deus, mas só as dos homens» (Mc 8,32-33)! Depois da sua queda, Pedro arrependeu-se e encontrou perdão e graça. Também Judas se arrependeu, mas o seu arrependimento degenerou em desespero e assim tornou-se autodestruição. [...]

Tenhamos presentes duas coisas. A primeira: Jesus respeita a nossa liberdade. A segunda: Jesus espera a nossa disponibilidade para o arrependimento e para a conversão; é rico de misericórdia e de perdão. Afinal, quando pensamos no papel negativo desempenhado por Judas, devemos inseri-lo na condução superior dos acontecimentos por parte de Deus. A sua traição levou à morte de Jesus, que transformou este tremendo suplício em espaço de amor salvífico e em entrega de Si ao Pai (cf Gal 2,20; Ef 5,2.25).

O Verbo «trair» deriva de uma palavra grega que significa «entregar». Por vezes, o seu sujeito é Deus em pessoa: foi Ele que, por amor, «entregou» Jesus por todos nós (cf Rom 8,32). No seu misterioso projeto salvífico, Deus assume o gesto imperdoável de Judas como ocasião de doação total do Filho para a redenção do mundo.